sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

  1. A relação do homem com animais de estimação remonta de cerca de 10 mil anos atrás. Cães e gatos são os animais que mais preenchem as necessidades físicas e emocionais dos seres humanos, e vêm gradativamente encontrando seu lugar dentro dos núcleos familiares. Os pets costumam encher a casa de alegrias, encantam-nos com suas travessuras, são fofos, lindos, pequeninos e gostosos de apertar. Porém, também dão trabalho, gastos e alguns incômodos às vezes. Exigem tempo disponível, rações de boa qualidade, fazem xixi pela casa toda, precisam ser educados, adestrados, levados para passear e necessitam acompanhamento veterinário periódico. Muitas vezes crescem mais do que o previsto ou seu temperamento não é exatamente o esperado. Por estes motivos, muitos cães e gatos, mesmos fofinhos e travessos, acabam abandonados por seus guardiões, que não têm a mínima estrutura física ou psicológica para mantê-los. Isto acaba trazendo (e agravando) um dos maiores problemas que vivenciamos em relação a animais de estimação atualmente: o abandono e os maus tratos.
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  3. A situação dos animais de rua no Brasil está cada vez mais delicada, e representa hoje um problema de saúde pública. Cães e gatos sujos, magros, famintos e doentes, muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade, reviram o lixo atrás de comida, transmitem doenças, vivem no relento sob o sol forte ou o frio intenso. São maltratados e rejeitados até que finalmente são recolhidos e encaminhados aos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs), onde são, na maioria das vezes, sacrificados. Os CCZs representam então, outra cena triste desta história. Funcionando como depósitos superlotados, recebem animais de todos os tamanhos e raças, muitos deles cães e gatos que foram abandonados por quem um dia já lhes prometeu amor e proteção. Estima-se que, de 10 animais abandonados, 8 já tiveram um lar. São animais que, por um motivo ou outro, foram rejeitados, não superaram as expectativas de seus “donos” e por isso, foram descartados. Cresceram demais, adoeceram, não foram educados o suficiente, geraram gastos e aborrecimentos.
  4. Mas a questão é: porque os animais acabam abandonados nas ruas e nos centros de controles de zoonoses? O que leva as pessoas a se desfazerem de seus pets, sobre os quais depositaram tantas expectativas e juraram amar para sempre? Creio que os motivos sejam muitos, mas o principal deles: a grande falta de conhecimento das pessoas acerca do que representa de fato ter um animal em casa. Quando adquirimos um animal de estimação, seja ele da espécie que for, estabelecemos com ele um vínculo poderoso, e devemos estar preparados para uma relação duradoura de talvez, 15 a 20 anos. Durante este tempo, devemos arcar com uma série de responsabilidades para com o nosso animal que inclui, por exemplo, educá-lo e protegê-lo apesar de tudo. Devemos ter em mente que cães crescem, e podem se transformar de filhotinhos fofos e inofensivos à enormes, enlouquecidos e potenciais destruidores de plantas, casas e jardins. Devemos pensar também que nosso cão ou gato nem sempre terá o temperamento que desejamos. Muitas vezes eles são anti-sociais e ariscos, brigam, mordem e arranham, nos tiram a paciência com seus latidos insistentes, fazem “xixi” fora do lugar o tempo todo, aparentemente tentando nos enlouquecer. Em função disso, muitas pessoas não conseguem entender a real responsabilidade de ter um animal. Tratam seus animais como objetos, se desfazendo deles diante do primeiro obstáculo. Ouvi de um professor há alguns dias atrás que “animais são tudo na vida de alguém até que comecem a causar problemas.” Sim, é a verdade. O animal é tudo na vida de muitos donos, até que adoeça; até que comece a latir demais; até que morda alguém. A partir daí, passa a ser um problema, e como todo problema, tende a ser 

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  •  dispensando
    Outra atitude que normalmente acaba em abandono é a compra de animais por impulso, principalmente nas famosas feirinhas de filhotes ou pet shops. Os “maravilhosos” Pet Shops, com seus filhotes fofos e macios e ainda por cima por um precinho bem “camarada”, exercem fascínio sobre adultos e crianças, que acabam cedendo aos encantos dos pequenos. Assim, cães e gatos vão parar nas casas de milhões de brasileiros, enfeitados como presentes de Natal, Páscoa ou aniversário, como se fossem brinquedos bem elaborados. Porém, muita gente não sabe o que está por trás desse comércio abominável de animais. Filhotes vendidos em Pets Shops e feirinhas normalmente são provenientes de criações de fundo de quintal, ou seja, são animais sem o mínimo controle genético e que possivelmente darão muitas dores de cabeça aos seus guardiões. São animais cruzados indiscriminadamente por pessoas que se dizem criadores, mas que não passam de cachorreiros visando lucro à custa da exploração de cães e gatos. São filhotes que, diferentemente dos provenientes de criadores sérios, não recebem vacinas adequadas, estando sujeitos à diversas doenças infecto contagiosas. Não recebem ração de boa qualidade, o que prejudica seu desenvolvimento tanto físico quanto psicológico. Não possuem controle genético, podendo vir a apresentar doenças degenerativas ao longo de sua vida, trazendo dor e sofrimento tanto para o animal quanto para seu guardião. São desmamados precocemente e vendidos antes de completarem dois meses de idade, o que trás sérios problemas comportamentais e de socialização. Normalmente são produtos de cruzamentos consangüíneos, o que afeta seu temperamento, originando filhotes totalmente fora do padrão, agressivos, medrosos e anti-sociais. Por fim, a grande maioria não passa de lindos Vira-Latas “disfarçados” de Poodles, Lhasas, Shi-Tzus, Yorkshires, Labradores, Persas, Siameses, e tantas outras raças, o que acaba gerando insatisfação aos donos, que abandonam os animais por descobrirem que não era aquilo o que esperavam deles.